EXTINÇÃO DE VALORES

Lembro daquele romantismo, clichê, mas tão necessário...

Falas de amor, promessas do para sempre, amor eterno...

Coisas que não se vê.

Em tempos atuais tão inflamados, contaminados, solitários,

Tão liberais, tão fugazes,

Uma liberdade antes contida, ofuscada,

Que hoje, escancarada, dói.

Uma imoralidade desnecessária,

Trazendo para o externo

O que deveria se encerrar no íntimo.

Corpos e corpos,

Sem rostos, sem almas,

Vivendo ao bel-prazer,

Sem moral, sem direção.

Pulam-se as etapas.

Cama, lençóis,

E falta o que importa:

O toque, o tempo, a entrega,

A conexão que enlaça as almas,

A intimidade que constrói os alicerces.

Superficialidade reina,

Compromisso se esconde.

Sou da última geração que viu cavalheiros,

Mãos que seguravam portas,

Olhares que diziam tudo sem palavra alguma.

Onde estão os casais que dançavam sob a lua?

Que viviam fases de descoberta e parceria?

Que entrelaçavam vidas com sonhos e esperanças?

Hoje, vejo tantos vazios preenchidos por instantes,

Tantas promessas quebradas antes de nascerem.

Lembro e lamento.

Mas ainda guardo em mim a centelha

De um amor que não se perde no tempo,

De um romantismo que, embora raro,

É ainda o que dá sentido a tudo.

Rosane Britto