Sem razão - poesia
Estávamos a sós, nós.
Lá, a música era outra:
riso frouxo e conversa fiada.
Não lembro de muito, admito,
mas lembro do olhar;
penetrava alma e espírito.
Matou e deu vida.
Quando perguntei 'por quê?'
Ela me respondeu,
com toda modéstia:
"sem razão."
Olhar tão singelo e puro,
Eu, pobre pecador,
Não combinava.
Mas continuávamos, porque, na verdade,
uma tarde ensolarada pode valer uma vida toda.
Mas a inexorável chuva acabou com tudo: só sobrou memória.
Tirou-me de lá e trouxe-me para cá.
Deu motivo pra tudo,
Pra chorar, só com contrato;
Pra rir, só sozinho.
Sem mais nem menos.
Atropelou. E eu morri.
É, sinto falta do sol da tarde de domingo,
quase choro.
Quando penso nisso,
sinto uma gota.
E volto a andar.