Agora que...
Agora que o tempo tem vencimento,
que penso nos odores da noite,
que frequento a amizade da solidão,
às vezes me imagino que sua boca me beija.
Agora que esqueci as lições de lingerie,
que meu corpo é lento na violência do desejo,
que guardo um pudor que nunca conheci,
às vezes conjecturo que você está dormindo ao meu lado.
Agora que se multiplicam as ausências,
que a vida faz seu minucioso trabalho sobre as peles,
agora que confundo alguns nomes,
às vezes me ocorre que você ainda se lembra de mim.
Agora que não sou hostilizado pelos credores,
que não tenho projetos a longo prazo,
agora que o passar do segundo me tira do tédio,
às vezes me ocorre que amo sem pretensões.