Resplandecente

Os olhos luz de âmbar

A beleza crua que só a juventude pode ostentar

Eu sinto que ainda não estou pronto

Ainda não, apenas ainda não!

Mas gosto das coisas assim,

Sem propósito,

Improváveis,

Que acontecem sem querer acontecer

Como uma manhã que vira noite em pleno dia,

Ou como um pássaro que pousa nas mãos de um homem desatento,

Ignorante da crueza em seu peito, apto à destruição.

É o tipo de acaso que não se faz merecer,

Não é a sorte que o caos presentearia a um homem como eu,

Essa graça, Deus reserva apenas aos seus.

Eu já não sei mais de que me servem os versos,

Pois já disse tanto, já senti tanto, já vivi tanto,

E, mesmo assim, a vida murmura:

Ainda não, apenas ainda não!

Seria possível que não fosse assim?

Escuto as estrelas sussurrarem uma maldição,

Que alcança meu coração e diz:

Você não é digno de florescer esta rosa,

Seu peito não lhe servirá de jardim.

Meus olhos, envergonhados, não encontrarão os teus

Ao dobrarmos uma esquina.

Eu sei que existe uma estrela no céu,

Mas juro que vi uma na terra,

Eu a vi.

E senti a delicada ternura que só delas exalam.

Ainda que minhas constelações sejam mudas e anedônias,

Eu pude ouvir, por um instante, ela sorrir e dizer:

Ainda não, apenas ainda não!

Mas há ainda a esperança.

Álvaro Duarte
Enviado por Álvaro Duarte em 13/11/2024
Reeditado em 01/12/2024
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