NO OUTONO CAEM as PENAS dos ANJOS
Amanhã de manhã nós estaremos assassinados
livres da responsabildade de viver
a vida dói
o mundo inteiro dói dentro de mim
Mas morrer é um mergulho num mar de penas do outono dos anjos
não vale a pena
ninguém se afoga direito
sem se afogar entre uma escolta de mulheres-marítimas
E como é que fica teu curativo
se o sol é uma ferida aberta na consciência externa?
Um barquinho de papel navega entre os fogos do inferno
levando foliões até a saída onde demônios são lânguidos
e as almas penadas mascam chiclet's
A noite está aí - negra e absoluta
- um açúcar intraduzível no café do absurdo
No outono caem as penas dos anjos - estes lagartos
do espírito - e fim
Três ou quatro muralhas desabam sob o voo
do teu amor - e fim
O verso acaba sob o aterrisar dos teus olhos
quando das veias abertas saem abutres prateados
que acendem estrelas no susto da aparição
(junho 1.980)