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Vi,
nesses dias,
um girassol
Tão amarelo quanto se pode ser,
Tão grande quanto se é possível ser,
E, inevitavelmente, lembrei de você,
Dos seus cabelos dourados,
Ouro puro!
Dos seus olhões verdes,
Floresta em que me "perdji";
Sim, lembrei também do seu xiado,
Que em contextos próprios faziam-lhe parecer uma panela de pressão,
Que, aliás,
em todo mundo sempre achei tosco,
Mas que, em você, jamais!
Dava gosto, confesso,
ouvir
E sentir
Cada onda sonora que saía
daquela boca saborosa,
Da qual só tirei lascas;
Da qual só borrei o gloss,
E ela, a minha alma.
Sua risada?
Essa me entorpecia feito droga pesada,
E eu já usei de tantas...
Porém nunca uma tão pesada,
Tão amada,
Buscada
E ansiada por mim.
A sensação que sentia ouvindo
E olhando
Você sorrir,
Era algo próximo de uma complacência
Carnal,
Mas que prescindia de toques físicos;
Me atraia,
Me animava,
de algum modo,
aquela imagem,
E eu queria ser receptivo
a tudo aquilo,
E era, sempre que podia.
À você nunca houveram barreiras
em meu coração,
Embora no seu, já tão lascado,
Os muros fossem enormes,
E eu,
tão fraco,
não os pude transpor.
Todavia, galega,
Olhar aquele girassol me lembrou você,
Apesar de tudo!
Do contexto da vida em que nos encontramos,
Do nível de sagacidade mental,
Da situação conjugal,
De tudo.
E, ainda que eu quisesse,
Não poderia tirar da beleza do girassol
A referência que a natureza buscou em você,
Ou, se posso dizer-lo melhor,
Não poderia tirar da beleza que há em você
a referência que Deus buscou no girassol;
Essas coisas já não se separam
em minha cabeça
Desde o dia em que você a bagunçou,
Com esses cabelos amarelos,
Como as pétalas do girassol,
E com esses olhos verdes,
Como as folhas do girassol.
Tu, para mim,
Já não és pessoa,
És uma flor em minha memória,
Um girassol em meu jardim.
12 de novembro de 2024, Natal/RN