AO AMOR QUE EU NÃO ENCONTREI NA VIDA

No mármore etéreo a luz se desfaz,

Sob a lembrança de um amor ausente,

Teus altos arcos guardam em paz

Os reflexo de um coração silente.

Fluidos de rosas no eterno jardim,

Saudade sussurra entre folhas de prata,

Caminhos de pedra se perdem em mim,

Na brisa que abraça a alma insensata.

Lágrimas d'algodão, nuvens a vagar,

Carícias do tempo, vestígios perdidos,

Ah, doce relato, por que me fazer chorar?

Se sonhar, sou prisioneiro de amores não vividos.

Ecos de risadas em noites de luar,

Desígnios de amor que o destino negou,

A glória dos sentimentos, a esperar,

Na arquitetura d'alma que nunca chegou.

Miragem celeste, castelo dos desejos,

No fundo do eixo do meu coração,

Teço os versos, os mais belos ensejos,

Mas eles se dispersam em vã ilusão.

Perfume de íris no rio da memória,

Cabelos ao vento, sob o sol que brilhava,

Dançando em sombras, uma triste história,

No amor que se esconde e que nunca se 'sava'.

O tempo como lixa, desgasta, desfaz,

Mas a imagem do amor que nunca encontrei,

Esculpida na pedra, perfeita e eficaz,

É um sonho que vivo, e que nunca deixei.

Tal e eterno, em beleza, é o sentimento,

Representa o amor que o destino ocultou,

Em cada canto, em cada momento,

Resplandece a dor do que nunca chegou.