Coração do mundo

O mundo mudou, Drummond,

aos pedaços e remendos,

como se fosse um velho mapa,

com fronteiras que sangram e se apagam.

Lá onde plantaste tua angústia,

o cimento cresceu alto,

tapando raízes e sonhos.

O campo é máquina e metal,

o ar não canta mais nas manhãs,

e o oceano guarda segredos

em cores que não deviam estar lá.

Homens andam curvados,

não pela carga do outro,

mas pelo peso do vazio

na palma da mão brilhante,

na pressa que rasga os dias.

E o amor, Drummond?

É fábula ou fratura,

um ponto de interrogação

no trânsito de vidas distraídas.

Mas entre as ruínas e a poeira,

ainda nascem flores.

Ainda o poeta insiste,

como tu, em ver o chão

e, com um fio de esperança,

tenta ouvir o que resta do coração do mundo.