Exaltação

Ao sol que morre e se faz ausente,

abre-se as portas para a liquidez do anoitecer,

diluindo-se nas sombras da noite,

e leva com ele um sonho,

porque o sol se deixou morrer.

Fere, noite, as luzes à alma latente,

pois só a carne venceu todas as barreiras

e comeu a terra como fosse um penitente,

e a lua uma testemunha derradeira

de um corpo que, sem alma, vagueia.

O nada estendido no leito é um corpo sem a sua guarda,

imerso num profano de raios de uma tempestade,

neste corpo que perdeu sua imanência parda,

que de um inteiro só resta a sua metade,

pois foi ceifado na essência inapreensível do ser.

Os desejos nascem do fogo e não das cinzas,

neste pulsar galopante em suas veias,

nos preconceitos estão contidos todos os defeitos,

e as verdades são nítidas e concisas,

alvas, com os dois pés enterrados nas areias.