CASIMIRO DE ABREU
Casimiro de Abreu, apesar de ter morrido muito jovem, marcou o romantismo brasileiro.
Em Portugal também compôs o drama Camões e o Jau, texto que foi representado no teatro D. Fernando, em 1856, com grande sucesso de público. Ainda na Europa, colaborou na imprensa portuguesa ao lado do escritor português Alexandre Herculano. Sua participação no meio jornalístico possibilitou, em 1856, que o jornal O Progresso imprimisse o folhetim “Carolina”, e que a revista Ilustração Luso-Brasileira publicasse os primeiros capítulos de “Camila”.
Em 1857, voltou ao Rio de Janeiro, onde colaborou em alguns jornais, como A Marmota, O Espelho, Revista Popular e Correio Mercantil. Nesse último jornal, tinha como colegas de trabalho os escritores Manuel Antônio de Almeida e Machado de Assis. Publicou As primaveras em 1859.
Em 1860, seu pai faleceu. Casimiro de Abreu, doente de tuberculose, saiu da capital em busca de um clima mais ameno em Nova Friburgo. Sem obter melhora, recolheu-se em uma fazendo no município que hoje leva seu nome, onde veio a falecer aos 21 anos, em 18 de outubro de 1860. O poeta é o patrono da cadeira número 6 da Academia Brasileira de Letras
Características literárias da obra de Casimiro de Abreu
Casimiro de Abreu é um escritor ligado à segunda geração do romantismo brasileiro, também conhecida como ultrarromantismo. Suas obras apresentam as seguintes características:
- Nostalgia da infância
- Saudade da terra natal
- Apreço pela natureza
- Religiosidade
- Patriotismo
- Idealização da mulher amada
- Preferência pela estrofe regular
- Externalização de emoções ingênuas e juvenis
Veja também: Gonçalves Dias – o grande nome da primeira geração romântica no Brasil
Obras de Casimiro de Abreu
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Poesia
- As primaveras (1859)
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Prosa
- Carolina (1856)
- Camila: memórias de uma virgem (1856)
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Teatro
- Camões e o Jau (1856)
Poemas de Casimiro de Abreu
Meus oito anos
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d'amor!
Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minhã irmã!
(Fragmento)
Em “Meus oito anos”, o mais famoso poema de Casimiro de Abreu, observa-se traços que marcaram toda sua produção literária. A voz poética, em primeira pessoa, rememora, com muita nostalgia, passagens de sua infância em meio à natureza. Esse momento de sua vida, revisitado de forma idealizada, contrasta-se com o momento presente, em que o eu lírico vê-se envolto em “mágoas”.
Assim, a idealização da natureza que constitui seu quintal na infância, além da idealização desse período de sua vida, constitui um dos pilares do romantismo brasileiro, movimento do qual Casimiro de Abreu faz parte como um de seus mais importantes nomes.
Deus
Eu me lembro! Eu me lembro! — Era pequeno
E brincava na praia; o mar bramia,
E, erguendo o dorso altivo, sacudia,
A branca espuma para o céu sereno.
E eu disse a minha mãe nesse momento:
"Que dura orquestra! Que furor insano!
Que pode haver de maior do que o oceano
Ou que seja mais forte do que o vento?"
Minha mãe a sorrir, olhou pros céus
E respondeu: — Um ser que nós não vemos,
É maior do que o mar que nós tememos,
Mais forte que o tufão, meu filho, é Deus.
Em “Deus”, a natureza também é destacada por uma voz poética em primeira pessoa, a qual, assim como em “Meus oito anos”, rememora passagens da infância. Com um tom muito nostálgico, o eu lírico relembra um momento em que, estando à beira do mar com sua mãe, espanta-se com a força das ondas, imaginando, inicialmente, que não haveria elemento mais forte que aquele no mundo, ao que sua mãe responde que Deus seria esse elemento.
Há, portanto, no poema, além do saudosismo e da exaltação da natureza, uma outra vertente romântica também cultivada por Casimiro de Abreu: a religiosidade cristã.
Publicado por Leandro Guimarães