CAMARIM DEMOLIDO
As noites cada vez mais imensas. Cuidado ao andar
não pise nos seus mortos. Eles sentem menos do que eu,
mas tanto sentem quanto a profundidade do Universo permite.
Você sabe, sobre certas alturas é possível ver o que passou, quem
sabe se do alto de um planeta não verá você os melhores momentos?
(aqueles que você deixou num camarim demolido, como flores
que de hipnotizadas você fez murchar)
Sei que os seus olhos são outros, você é outra, já não será possível
voltar atrás, atrás é o porto dos fracassados, e você não fracassou,
ou?
não é mesmo?
Aqui fora o tempo é cruel, por entre os guardas passa uma esperança
que de tão subversiva pega carona nas sombras.
Não ligue aos que te amam com olhos embriagados, eles sabem (eu sei)
que você desdenharia, não será possível (o que é?). Mas eu sei
(eles menos) que tudo o que se passa te diverte, como a prova
de você ainda está por cima.
Os tempos mudam com o vento (escultor de universos),
os amantes de uma ilusão te esperam na saída (quando não houver
mais entrada), com um buquet de rosas murchas e um frio
de após o fim do sol será o clima
(maio de 1.980)