Cálida noite

Avesso dela

sentado do lado oposto

Ela, frente ao espelho

desejo

.

As palavras saíram duras

ele entornou a cabeça 

amuado, era esperado

ela já sabia, mas fingiu inocência 

entregou o corpo à dormência 

.

Sentiu-se intrusa

saiu da casa

a sua

entregou-se à campina

girou a saia cor de noite

desacordada, fez afronte

.

Velas transbordavam a noite

foi embriagada pelo canto

possuída pelo vinho quente

sentiu a pele palpitar

corpo a clamar

.

Retornou à casa

levantou a saia como vingança 

engolida pela noite 

com cheiro de dama da noite

implorou açoite

.

Arqueou o ventre

foi amortecida pelo mago

tecida

noite animalesca 

na madrugada, vomitou versos

imaginou gestos

.

Na parede branca, jorrou verbos

palavras trancadas

as velas se apagaram

o mago transcendeu

Ascendeu

.

Na memória, o vinho amargo

a carne arrancada

a ausência

uma meia desbotada

a presença enterrada

.

Frente ao espelho partido

fotografou o velório 

chorou até avermelhar 

acendeu uma vela branca

girou a tranca

nos cabelos, uma trança

dormiu só

.