Esfumou-se!

Já não há tempo ou dias ou domingos

Todas as vidas que tinha, gastei

para morrer contigo.

E agora, que resta? em nós,

esfumou-se a esperança e o tempo,

e perdi o teu passo, o teu compasso

para além da descida do rio.

Rasguei as cartas e as recordações.

Em vão: o papel do coração restou, intacto.

Só os meus dedos murcharam, decepados pela idade.

Queimei todas as fotos.

Em vão: as imagens e recordações restaram incólumes

e só os meus olhos lacrimejantes se desfizeram,

redondas cinzas do que vivemos.

Com que roupa

vestirei minha alma para esconder a dor

agora que já não há domingos?

Quero morrer, não consigo.

Depois de te viver feliz de tanto amor,

não há poente ou norte

nem o enfim de um fim.

Porventura apenas a morte.

...Mas!

Todas as mortes eu gastei

para viver e sonhar contigo