Tenho inveja de certas gentes

as que não se importam 

que vivem alheias às coisas

relam sem tocar

nadam sem mergulhar

magoam e saem a cantarolar

pessoas assim...

como quem nada fez

.

Sou tola

presenteio com dedicatória 

ofereço o que não tenho

fico nua

e finjo estar vestida

para não desagradar 

.

Faço para o outro

o que falta em mim

no fim, de nada vale

a gente acorda e descobre 

assim, de lampejo...

 mostrar alegria demais

 incomoda

a tristeza é bem-vinda

.

Ora, ora!

setembro amarelo aos farelos

mas que a tristeza seja amena

não atrapalhe o ritmo das coisas

a engrenagem 

que a sua voz

não seja insistente demais

.

Às três da madrugada

lembrei-me de um livro

páginas amarelas

dei a uma pessoa 

que mais tarde descobri

pessoa alheia

aprendi com meu pai

já levado ao eterno

que quando a gente ganha livro de alguém 

é tesouro partilhado

e quem ganha

precisa comentar

dizer algo sobre o livro

daquelas páginas

se for muito esforço, da capa

.

Não sei mais da pessoa

do livro, resta a memória 

pérola aos porcos

como dizia a avó

e assim é a vida

.

é a vida...

pequenas pérolas jogadas pela estrada

a torcer que alguém as veja

 

 

 

 

 

 

 

 

.