EMPOEIRADA
A casa está suja.
A poeira está viva.
Surge por todos os lados.
E com o aspirador de pó
preciso aspirar essa vida
A poeira da casa
também é tua pele morta, querida
crescendo na sala, na cozinha, no nosso quarto
e mesmo assim,
como pele acabada, descomposta,
você ainda está viva por aqui.
E é preciso sugar-lhe a vida
A vassoura é uma lança contra ti
Contra ti, que se tornou minha antagonista,
minha alergia.
Estou tossindo agora
abro as janelas.
A casa está viva
A tua pele morta tornou-se
a poeira ativa,
que descobriu minha respiração,
poeira que eu preciso findar.
Eu nunca vencerei esta batalha.
Haverá sempre lascas
da tua passagem por esses corredores,
Nunca vencerei,
mas sigo tentando,
se eu desistir
trocarei para sempre o sossego pelo estilhaço;
a tinta pelo buraco;
uma solidão reluzente por tua circulação.
A casa empoeirada me diz...
você ainda está viva.