Nem mãe, nem filha...

Desconfio mesmo de que não passas

de uma construção da minha mente.

Lembras quando nos conhecemos?

Apresentações... Chove?... então exclamei:

— Eu não acredito que estás aí!

Sobrevieram vendavais e eu procurando

soluções psicanalíticas que fossem:

— Muito antes de vir a te conhecer,

decerto na minha mente já moravas,

no meu coração, na minha alma...

Ao te encontrar teria estranhado:

— Se sempre estiveste dentro

de mim como podes agora

estar do lado de fora...

Teria do avesso me virado?

Ou será que podemos supor

que de alguma estranha forma

vim eu mesmo a te parir...

— Mas não podes ser minha filha!

O que és então?

Passaram-se tempos e dúvidas

mas agora eu consegui enxergar:

— Pela força que me arrasta,

que me faz querer te apertar,

a ti me unir, em ti me entranhar...

Queria é me virar pra dentro

de ti como um filho aninhado

no ventre de sua mãe...

— Mas não podes ser minha mãe!

O que és então?

A história das duas metades,

sou um homem e como tal

suspiro por uma mulher:

— Não serias a deusa com que — Arrependida! —

achou por bem a Criação me ressarcir?

Mas enquanto sonhava eu

que a ti poderia me juntar,

te evaporavas como um dia apareceras...

— Então não podes ser minha mulher!

O que és então?

— Nem mãe, nem filha...

nem mulher, nem nada!

Agora estou bem certo de que não passas

de uma construção da minha mente

tsc-tsc! Um improvável e cruel... delírio!