TULIPAS NEGRAS

TULIPAS NEGRAS

Quando a noite se estica, nua, sobre o mundo

e o tempo desaba em silêncios densos

sinto tua presença.

Teus olhos…crateras de lua perdida

arrancam de mim o fôlego sem aviso

como o som abafado de um trovão distante.

Teus dedos… tocam a pele da minha mente

vento cortante a rasgar os pensamentos

mapeando os desejos ocultos

nas frestas que deixei abertas por distração.

No centro da minha essência

teu toque finca raízes

tulipas negras

brotando no deserto que sou.

Teus suspiros…oceano em ressaca

me afogam sem toque

e enquanto as palavras escorrem, líquidas

teus segredos selam cicatrizes

que nunca ousei mostrar à luz.

Eu…refém do teu mistério

entrego-me ao verso não escrito

uma promessa de caos delicado

há beleza no que não se explica

no que se consome sem ser devorado.

O que deixas em mim não é toque

não é corpo

é cicatriz, é raiz

uma memória plantada

no desejo da minha alma

onde tulipas negras florescem

mesmo sem nunca ter visto o sol.

J. Simone Santos

J Simone Santos
Enviado por J Simone Santos em 06/10/2024
Código do texto: T8167756
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