TULIPAS NEGRAS
TULIPAS NEGRAS
Quando a noite se estica, nua, sobre o mundo
e o tempo desaba em silêncios densos
sinto tua presença.
Teus olhos…crateras de lua perdida
arrancam de mim o fôlego sem aviso
como o som abafado de um trovão distante.
Teus dedos… tocam a pele da minha mente
vento cortante a rasgar os pensamentos
mapeando os desejos ocultos
nas frestas que deixei abertas por distração.
No centro da minha essência
teu toque finca raízes
tulipas negras
brotando no deserto que sou.
Teus suspiros…oceano em ressaca
me afogam sem toque
e enquanto as palavras escorrem, líquidas
teus segredos selam cicatrizes
que nunca ousei mostrar à luz.
Eu…refém do teu mistério
entrego-me ao verso não escrito
uma promessa de caos delicado
há beleza no que não se explica
no que se consome sem ser devorado.
O que deixas em mim não é toque
não é corpo
é cicatriz, é raiz
uma memória plantada
no desejo da minha alma
onde tulipas negras florescem
mesmo sem nunca ter visto o sol.
J. Simone Santos