Cobriu-se com tecido negro
silenciou a veste
como vespa
tramou vinganças
Afinou o tom
verde
.
Desejou o espelho partido
já há um tempo se olha
partida
uma busca (quase) premeditada
tantas vezes, interditada
.
Com suas garras feridas
arrancadas e paridas
pintadas de rosa
burlou o tempo
disfarçou delicadezas
e teceu uma teia sobre si,
temeu ser o fim
desejosa, fiou inícios
.
Os fios dos cabelos ondulados
marrons
a cabeça apetecida no travesseiro
cavou terras outras
a teia embebida de bondade
verde
.
Os fios destemidos penetraram sua pele
todos para fora do corpo
sentiu prazer, enfim
jorrou a casa de esperanças
fiou temperanças
espalhou perfume de camomila
a temida
desejou ser outra
.
Partida pelo espelho
sorriu para a maldade
como deusa profana
no fim, humana
os fios tomaram seu corpo
pouco a pouco
em silêncio, admirou-se
intermitente eco do nada
como o vazio é bom
-ela sorriu-
o espelho assentiu
.
Ímpeto de coragem, quis conduzir o fio
sentiu receio dos nós
mas não calou
silenciosamente
capturada de si
na teia engendrada
abraçou as memórias
desfez os nós
beijou a maldade
renovo à fina pele
.
Nem boa, nem má
mas outra
caçando tons
junto ao espelho partido
elaborou partidas
mero acaso?
.
Os fios verdes corporificados
pincelada de sangue na boca
no preto do tecido, viúva negra
matou para viver
-e ver-
meio mulher, meio aranha
continuidade de si
pelo espelho, sonhou liberdade
teceu a própria teia
emaranhada de fios
presa para sempre
na liberdade de outros rios
tons verdes
outras terras
corpo-fio
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