Ao meu amor.
Ao meu amor, deixo tudo o que sou. O que fui. O que seria. O que não soube ser. O que sonhei ter sido. O que não consegui ser. O que doeu ser. O que não quis ser. O que não fui até o fim. O que não era de começo. O que era pra ter sido.
Ao meu amor, deixo o que não posso levar. O que já está pesado. O que ainda é muito leve. O que não cabe em mim. O que nunca coube. O que eu forcei para encaixar. O que eu perdi. O que não era meu. O que eu não sei o que é. O que eu não lembrei de guardar. O que valeu. O que é nada.
Ao meu amor, deixo o que tive. O que é bonito. O que não é de mais ninguém. O que eu dei a outro alguém. O que me machucou. O que eu feri. O que está escrito. O que nunca soube explicar. O que marcou a minha estrada. O que eu deixei passar. O que não preocupei em lembrar. O que penei a esquecer.
Minha felicidade e tristeza. Minha união e guerra. Minhas noites e dias. Minha ansiedade e calmaria. Minha empatia e egoísmo. Minha mentira e verdade. A minha riqueza e humildade. Meu caos e rebeldia. Meu medo e carência. Minha presença e sua ausência. O meu fim.
Deixo ao meu amor, todos os detalhes de todos os meus “eu”. O que senti por cada um. O que só senti por ela. O que não senti por ninguém. O que foi poético. O que foi caótico. O que eu aprendi. O que ninguém me ensinou.
Ao meu amor, deixo o que está além de mim. O que continua no tempo. O que não termina com a vida.
Ao que já amei, peço perdão. E ao meu amor, deixo todos os verbos que o amar me deu.