O Corvo Cerúleo e o Corvo Arroxeado
Nos vazios cheios de significados,
Em noites quentes de quartos abafados,
Um corvo cumprimenta um corvo,
Os arautos da morte trazem o ar do novo.
Cordialmente se bicaram,
Sentiram seus gostos, se marcaram,
O sangue ferroso,
O suor fervoroso.
O sinal de mau agouro, transformado em ouro,
A raridade do valor de amar,
Sem se matar,
Explorando esse caminho, com carinho.
Ah Ursa Maior, guiai os aflitos!
Através de seus instintos,
Fazei-nos íntimos,
Sob todos os nossos ritmos.
Salve Arautos da Morte!
Aqueles que guiam para o norte,
Aqueles que guiados para a morte,
Viver ao Altíssimo é sorte!
És nosso hino, és nosso destino,
Mas até o pássaro do conflito,
Merece se sentir vivo,
Junto ao seu parceiro, junto ao seu paradeiro.
Àquele tocado pelo véu noturno,
Cerúleo por um breve turno,
Àquele tocado pelo céu diurno,
Arroxeado com o nascimento de um turno.
Ah Senhor, se eu sou morte,
Sou um pássaro de sorte,
Roxo como o clarear da manhã,
Filho de um impiedoso revenã.
Oh pássaro de prata,
Que brilha que mata,
Meia noite em meio à luz,
Este corvo roxo me seduz!
O pensamento corre solto,
E mesmo as vezes me sentindo tão morto,
O tempo não tem tempo de ter pressa em viver,
Viver esse romance do teu lado!
Não há poleiro, não há gaiola,
Somente o breve som da viola,
O doce gosto da graviola,
Nossa vida, nossa hora.
Gritai aos mortos nosso hino,
Em meio a guerra, haja ninho,
Pois estou morrendo de amor,
Estou sufocado de carinho.
Dessa paixão, quero ter prisão perpétua,
Perpetuando ao longo do eterno,
Acima de qualquer dor,
Acima de qualquer calor.
Então saímos, voando ao desconhecido,
Para sair para ser feliz, para sair para o desfalecido,
O falecimento de todo lamento,
O falecimento de todo ressentimento.
Somos pássaros de mal presságio,
Mas ti é meu maior tesouro,
Não existe mau agouro,
Nesse amor duradouro.
Há de mudar, como já tem mudado,
Enterrando o fantasma do passado,
Provando a todos que estão errados,
Furando todos os mau olhados.
Vestimos os mantos negros,
Pois as cores são para intimidades,
Carregamos nossos próprios pesos,
Nos entregamos a desejos “animales”.
E mudou, como tem mudado,
Esse foi o nosso amor doado,
Sem preço, nem entabulado,
É sobre sentir-se amado.
O Corvo Cerúleo e o Corvo Arroxeado,
Monstros que merecem ser amados,
Merecem ter seus machucados curados,
Farei o que for necessário,
Pelo sorriso do meu amado.