Alguém para amar
Tenho percorrido tantas veredas numa vida estranha,
convivendo com rostos sem um significado especial,
corpos sem um perfume que permanecesse em minha pele,
sorrisos sem deixar impressões gravadas em minha memória,
beijos sem o doce sabor da entrega verdadeira e profunda,
carinhos sem o calor de um vulcão prestes a erupção,
vivo há tanto tempo sozinho sem ter alguém para amar...
Tenho me lançado na escuridão de minha noite sem estrelas,
soprado as velas que poderiam iluminar o trajeto até a porta,
fechado os olhos para paisagens bucólicas em tons pastéis,
ensurdecido para trilhas sonóras enebriadas em emoções sinceras,
me abandonando ao banho de chuva num dia de inverno cinza,
sentado nos degraus de cimento frio de um bairro deserto,
vivo há tanto tempo sem encontrar alguém para amar...
Tenho passado alguns dias numa velha estação de trem,
observando pessoas desconhecidas partirem ou chegarem,
viagens que não imagino a procedência, o destino ou o motivo,
pessoas apressadas, com família, cansadas, tristes, entediadas,
algumas olhando pela janela esperando um aceno que nunca houve,
algumas deixando lágrimas percorrerem o vidro da janela como súplica,
vivo há tanto tempo sem esperar alguém para amar...
Tenho assistido à minha vida como um calendário de outono,
dias soltando-se como folhas de árvores voando ao chão,
me sentindo um passageiro sem razão para continuar viagem,
um forasteiro de mim mesmo sem reconhecer minha existência,
respirando o ar que me é concedido como uma dádiva inglória,
angustiado por não ter uma mão para afagar num passeio de sábado,
deprimido por não ter a quem escrever uma carta de amor virtual,
vivo há tanto sem saber o que é ter alguém para amar...