Espelho d'água
O sol banha meu corpo felpudo, os meus cascos mergulhados na areia fina da praia.
Saido de minha clareira, eu segui sua voz até me deparar com a imensidão do mar,
A orla intocada da praia, enfeitada com diversas conchas peroladas, como undina e sua saia,
Fecho os olhos e visualizo o doce som da retribuição marinha, e me ponho a cantarolar.
De súbito aquela voz marejada que ouvia parou, cantarolei a gratidão da vida originada do mar,
Pareceu até que me ouvia, cada tom, cada nota de minha lira era uma ode a seu imenso amor,
Um dia ouvi dizer que havia mar no lado obscuro da Lua, puro e intacto, carente do amar,
Já os nosso oceanos são táteis de vida e caos, uma bela harmonia que deságua em tudo que há de cor
Dado meus últimos acordes eu olho para o céu, e finco meus cascos de jade na terra.
Ao contemplar o horizonte vasto uma figura me observara do mar, imóvel e arrebatada
Tal como eu ficara ao mirar em seus olhos, jóias adornavam seu cabelo rubro, prata e ouro e pérolas
Me aproximei da água fitando aquela miragem intensa, lavei meu rosto na água salgada,
Não era miragem, seria essa a origem daquela voz? Eu toco em minha lira, e timidamente ela se aproxima.
A cada acorde ela investia e sua voz reluzia, era como tocar em sua pele macia,
Eloquente e vibrante era sua melodia cintilante, não obstante era marejante e relaxante,
Gentil e belo era o movimento da água reverberando de seu corpo em trânsito
Até que então eu podia sentir seu toque encharcado, passeando a palma invertida em minha face
Minha lira já submersa e nossos olhares em pé de igualdade
Um movimento sublime ela colhe em suas mãos uma fração mínima do oceano
Ao contemplar o reflexo eu vislumbro a mim mesmo e a imensidão acima
Meu reflexo se mistura às estrelas de um céu eternamente noturno, eu me vejo em tudo e o tudo a mim vê.