reticências
acendi um incenso perdido,
peguei o violão,
tentei lembrar daqueles acordes
das músicas improvisadas
que eu toquei à beira-mar pra você.
a vista daquela árvore distante,
as luzes nos meus olhos
ápice da paz.
sempre fui fã de memórias
mas não sou fã de reticências.
sentir sua falta não é tão agradável,
prefiro lembrar do seu sumiço,
da sua falta de maturidade
e do seu adeus sem sentido.
tudo bem, vá embora.
espero que sua felicidade se multiplique.
escrevi uma música,
baseada nas noites em que andávamos por aí
e no jeito que nós cantávamos lovesick,
dançando e rodopiando pelas ruas
de um jeito desafinado e sem sincronia.
todos diziam que nossa união era imbatível.
mas não era.
necessidades carnais e sua mania
de exaltar seu ego nos destruiu.
as pessoas são imprevisíveis
e a vida me tirou você.
ou melhor,
você me tirou da sua vida.
meu incenso continua queimando,
enquanto a memória daqueles dias me assombra,
ou será que me traz uma nostalgia boa?
sei lá, tanto faz!
meu riso continua intacto
e prefiro acreditar que um dia o destino nos une outra vez.
prefiro lembrar,
me renovar, me purificar.
a segunda coisa mais triste
da passagem das pessoas pela nossa vida
é o tempo que demoramos para nos acostumar
com a presença delas quando atravessam nosso caminho.
a primeira continua sendo
o tempo que levamos para nos acostumar
a caminhar sem elas ao nosso lado.