Guri
Sem corda, sem arreio
Pulava no lombo, e descia as ruas a galope
Sem camisa, chinelinho de dedo
Ele sabia, era o momento do guri
Eu tinha certeza, ele gostava
Nós dois pelas ruas, cortando distância
Manso e gentil, eu arisco e encabulado
Outros tempos, da charrete
Dos fretes baratos, por trocados
Percorrendo ruas, em busca do pão escasso
Tempo bom, guri de outra época
Futebol descalço, goleiras de chinelo
Bola de carpim, parando para pedestres
Driblando pedras e adversários
As vezes tirava um tampo do pé
Amarrava uma tira de pano
E seguia a partida
Só acabava o jogo com o grito
De alguma mãe, sol posto
Suor escorrendo, placar discutido
Muitas vezes no grito
Voltavam os guri pra suas casas
No outro dia tudo de novo!