Ode ao mar
Vem, estende as tuas espumas
e lambe o meu corpo.
Vem, abre as tuas entranhas de areia
e abriga o meu coração.
Me embala nas tuas águas salgadas
como ao filho no seio da mãe.
Te derrama sobre mim
na carícia morna de teus gestos eternos.
Joga sobre mim tuas estrelas do mar,
tuas tatuíras, tuas faíscas de prata.
Me envolve no teu embalo,
me cobre com o teu sal branco.
Canta aos meus ouvidos tuas baladas de búzios.
Tenho anseio, tenho sede de ti.
Me prende nas tuas garras de algas
e não me soltes mais,
que não quero morrer
longe de teus ais soluçantes.
Deixa-me sentir na tua imensidão
toda a grandeza do mundo,
e a minha pequenez, e a glória de viver em ti,
de participar do concerto universal.
Deixa-me ser feliz contigo!
Longe de ti, eu morro:
a aridez me sufoca,
o mundo é incompleto,
e a felicidade impossível!
Reflete nos meus olhos
a luz tremulante do luar nas tuas ondas,
as ardentias das tuas espumas.
Deita as tuas lágrimas sobre as minhas mãos,
e choremos juntos esta saudade infinita,
tão infinita quanto o teu horizonte.
Debruça-te sobre mim, quero beber-te.
Quero encontrar em ti a pureza de Deus.
Se eu não puder chegar a ti, vem a mim.
Que a saudade te enfureça
e precipite tuas águas,
e as encastele, e assoberbe, e revolva,
e redemoinhe, e empine, e cavalgue,
e arremesse em vagalhões terra a dentro,
à minha procura!
E um maremoto invada as terras
em minha busca, transpondo montanhas,
subindo rios, percorrendo vales.
Lança-te onipotente neste planalto estorricado!
Fecunda-o!
Já deliro!
Estou à tua espera!