O SER E O TER
Numa rua eu passava,
Muito, na vida, eu pensava,
Num final de caminhada;
Tudo, de bens, eu possuía.
Mas, a tristeza que me invadia,
Dizia: - Tu não tens nada!
Pra ser sincero, ser franco,
Um bom dinheiro no banco,
E, três carros na garagem;
Mas, a tristeza que me invadia,
Parece que até dizia:
-Pobre homem, isso é bobagem!
Várias casas, em bairros nobres.
Não sabia o que era ser pobre,
Ou até era pobre e não sabia;
Uma dor invadia meu peito,
De sorrir não lembrava o jeito,
Pois, há tempo eu não sorria.
Era um fim de tardezinha,
E até a tristeza minha
Parecia anoitecer;
Mas, ao virar a rua direita,
Vi uma imagem tão perfeita,
Que jamais vou esquecer;
D’uma casa tão singela,
Sob a moldura da janela,
Um lindo anjo sorri;
Então, a noite fez-se bela,
Pois, sob aquela janela,
Um lindo quadro eu vi.
Mudei para aquela calçada,
E, com a voz embargada,
Àquele anjo, eu perguntei:
-De onde vem sua alegria?
E ainda disse, ao anjo que sorria,
Explique, pois eu não sei!
Então, o anjo, ainda sorrindo
E aquele sorriso tão lindo,
Fizeram-me…perder o chão;
Ela se aproximou mais da janela,
Com sua cadeira amarela,
E as duas rodas a girar co’as mãos.
-Chega mais perto, que te explico,
Moço, não é preciso ser rico,
Para encontrar a felicidade;
Ela está dentro da gente,
Não raras vezes, está dormente,
Mas, ela existe de verdade.
-Ela é uma árvore. E se podas,
Nem uma cadeira de rodas,
A impedirá de florir;
Ela existe e eu sou prova,
E a cada dia se renova,
Por isso, estou a sorrir.
E, da moça me despedi,
E, desde então, jamais senti,
A tristeza que eu era;
Ainda lembro da menina,
E até hoje me fascina,
O seu “sorriso primavera”.
Hoje em dia eu sou rico,
Finalizando, eu explico,
E você vai me compreender;
A verdadeira riqueza,
A verdadeira pobreza,
Não está nos bens, está no ser.