A CANTIGA

Quando ouço essa canção

meu coração volta ao passado ...

Me lembro do meu pai,

da minha mãe,

dos meus irmãos,

Zelia, Julia, Marden e ...

Jackson,

que está no Céu ...

Da casa humilde

em que moravamos em São Cristovão

quardo ainda o endereço,

Rua Coronel Brandão 11 ...

Aquilo, sim, é que era um lar doçe lar !

De repente,

tudo volta na minha cabeça,

como se fosse um filme,

um video tape,

uma reprise...

Meu pai era José,

como o pai de Jesus,

minha mãe, Rosa,

toda luz ...

Nas vesperas de São João,

sempre tinha festa lá em casa.

Fogueiras, balões, dircursos, batata assada,

casamento na roça ...

De repente chegavam

minha tia Cecy

e suas duas filhas,

Iracles e Aricles,

Ica e Aca,

para mim...

Eram mais três rosas no meu jardim !

Me lembro que eu tinha um gato preto

que se chamava MIUDINHO,

que dormia numa rede de lona

que eu tinha feito para ele,

ao pé de uma mangueira ...

As pessoas achavam diferente,

um gato dormindo numa rede ...

E me perguntavam assim,

¨ ei, menino,

êsse gato também é nordestino ? ¨

Quando mudei para Copacabana

tentei traze-lo junto ...

Mas ele se recusou,

achou ruim ...

Que decepção !

Hoje vejo que ele gostava mais da casa que de mim !

Até hoje,

quando vejo um gato preto na rua me lembro de MIUDINHO ...

Como terá sido o resto de sua vida sem mim ?

Eu era o caçula ...

Me chamavam de Batistinha,

uma forma carinhosa de apelidar.

Era Batistinha prá lá,

Batistinha, prá cá...

Uma vez eu estava jogando pelada no meio da rua ...

As balizas eram dois postes de iluminação.

Era o time de minha rua,

contra o time do morro do Tuití.

Cada galalau, cada negão ...

No auge da contenda,

ouviu-se aquela voz

com sotaque nordestino,

carregado ...

Batistinha ! Batistinha !

Não me deixe aqui em pé !

Venha tomar leite cm café ...

A vizinha da casa à esquerda chamava-se Dona Mença,

devia ser Clemência ...

Era um amor de pessoa,

cheia de ternura,

afeto,

paciência ...

Á da direita,

Regina Maria, coitada,

soube que morreu novinha,

um dia ...

Á da casa em frente,

Rosinha,

namorou com meu irmão, Jackson,

que inclusive a pediu em casamento ...

Mas, foram só momentos ...

Depois, descobrimos, perplexos,

que Jackson já era casado ...

Que safado !

Dos amigos,

lembro nomes e apelidos...

Helinho Biriguda, tinha uns cacoetes esquisitos,

batia os braços continuamente,

como se fosse voar.

Sergio Caolha,

tinha um problema de visão.

Alberto, seu irmão,

foi o primeiro grande amor de minha irmã,

Julia ...

Ela se casou com outro, Osvaldo,

foram felizes,

tiveram uma filha,

Yara,

minha sobrinha e afilhada ...

Mas, engraçado,

quando olho para Julia,

ainda vejo Alberto

em seu coração.

Zezinho Papagaio,

falava pelos cotovelos ...

Tutuca,

era manco de uma perna.

Tinha a estranha mania de passar a mão na bunda das mulheres

e,

sair correndo.

Cyrico,

era o viado da rua.

O único que eu tivesse conhecimento.

Naquele tempo não se usavam expressões como gays,

gls, lésbicas.

Era viado mesmo.

Dizia-se,

a boca pequena,

que Cyrico dava mais que xuxu na serra.

Eramos garotos ainda,

moradores do suburbio,

nada sabiamos da vida.

Nosso mundo era aquela rua !!!

Bruno era o mais moderninho da turma.

Um pouco mais velho, alto, falante.

Gabava-se de ser um bom amante.

Já frequentava Copacabana,

a famosa princesinha do mar.

Um dia,

festejando a Copa do Mundo de 1962,

perdeu os dedos da mão direita

ao soltar fogos na janela ...

Me lembro de Bruno,

desesperado,

se esvaindo em sangue,

correndo pela rua,

coitado !

E Jorge Pelé !!!

Tinha êsse apelido por ser o melhor peladeiro da rua ...

E, para completar,

ainda era compositor.

Gostava de cantar nas noites de Lua !

Tinha que ser meu melhor amigo mesmo, não é ?

Por onde andará você, Pelé ?

Ei, turma !!!

Apareça !

Quero saber o que vocês fizeram na vida !!

Ou o que a vida fez com vocês !

Vamos nos encontrar,

e,

escrever a nossa história,

mais uma vez ...

joão joão
Enviado por joão joão em 11/01/2008
Reeditado em 29/01/2008
Código do texto: T812395
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