Insegurança
Ora, meu amor,
Por quê tamanha insegurança?
Isto em tua pele não são mais que risquinhos,
Apenas risquinhos.
Eu os uso de guias quando passeio por tuas colinas sinuosas.
E pense bem, meu amor:
Tu que és tão artista quanto é temente a Deus,
Deves saber que,
Se Deus faz-nos à mão,
Certamente o faz com pincel -
Ferramenta própria para exprimir sutileza -,
Donde se conclui que isto em ti,
Que são risquinhos,
Mas que chamam "estria",
Não são senão rabiscos de Deus em tão bela tela,
Rabiscos do maior artista
na mais bela obra!
Pois então,
Por quê tamanha insegurança?
Tu és caucasiana,
e, sendo caucasiana,
eu te vejo deusa da beleza,
Afrodite em carne e osso;
mas, se fosse preta,
ora, preta eu te veria igualmente orixá da beleza,
Oxum em matéria;
Se fosse nipônica?
Ah, meu amor,
então serias benzaiten corporificada,
E por mim amada!
Não vês que eu a amo e a quero justamente por seres tão somente o que és?
E o que és, afinal?
Um corpo?
Uma ideia?
Penso que não sejas um corpo,
Apesar de por um se manifestar;
Penso que não sejas tão só uma ideia,
Pois tua parte mais carnal eu bem a vi.
O que és, afinal?
Eu não sei, só Deus o sabe.
O que sei
De verdade
é que,
seja você o que for,
és perfeita!
Pois tudo o que é no mundo
O é como deveria ser,
Desde o vôo da borbuleta no Jardim de vó Regina
ao rugir do leão lá no meio da savana africana,
Tudo é como deveria ser.
Não poderia eu esperar,
portanto,
Que fosses alguém que não és,
Porquanto
não sou só poeta,
também brinco de filosofia,
E a filosofia só me ensinou uma coisa:
Seguir sempre a razão,
sobretudo se for
em razão do amor.
5 de agosto de 2024, Natal/RN