Não Precisa Me Dizer...
Na quietude da noite, o poeta indaga, Por que a musa é o alvo, a conquista esperada, Sem ofensas, sem brigas, apenas uma pergunta delicada, Será que em momentos de solitude, em sua mente eu repousava?
Será que nas noites de inverno, quando juntos nos aconchegávamos, Você ainda busca a lembrança, nos cobertores, no edredom, nos travesseiros? Será que no verão, no outono, na primavera, em que momento? Será que um pedacinho de mim, ainda ali persiste?
Quando o cansaço a envolvia, e o filme a embalava suavemente, Será que um pensamento meu, ainda que discreto, surgia na mente? Nos recantos da memória, onde só os momentos bons resistem, Será que um pedacinho de mim, ainda ali persiste?
Recordo que apreciava me ver, na hora do banho, limpo e sereno, Seus olhos buscavam os meus, num gesto doce e ameno, Mas será que essas lembranças, não ecoam em seu coração, Onde a presença da minha imagem, já não encontra mais razão?
Recordará que até sua mamãezinha tão querida, minha sogrinha, Que um dia me apreciou, desejando que nosso amor florescesse, E se perpetuasse ao seu redor, Mas injustamente, nosso romance foi interrompido, sem razão, Baseado em suspeitas infundadas, que me privaram da sua compaixão.
Não busco a resposta, pois já sei qual seria, A resposta que não desejo, mas que me persegue, Deixe-me apenas vagar nas lembranças, no passado e na inspiração, Pois é nelas que encontro abrigo, para a minha eterna solidão, que até é benéfica a quem é um poeta.
Isaias Amorim