Ainda bate um coração!

I

Tornei-me uma fera

Aprisionada. Eterna espera

Que parece sem fim

Prisão feita por mim

Pela corrente das ilusões

Aquilo que tanto se esmera

Revela-se uma quimera

Lábios de vermelho carmim

Boca de um querubim

Que estraçalha os corações!

II

Ela veio; não me encontrou

Não estava. Mas deixou

Um bilhete rabiscado

Num papel dobrado

Que ficou preso à porta:

“Quem veio e não te achou

O coração, aqui, depositou

Peço que devolva-o imaculado

Intacto e bem guardado

O resto, já não importa!”

III

Perdi-me de ti, doce alma

Perdi, toda minha calma

Padeço em demasia

Exaurida foi a alegria

Ficou-me o tormento

Sem seu carinho que acalma

Beijo a beijo, palma a palma

Dia e noite, noite e dia

Por ti, tudo faria

Mas, estou só, no relento

2002

Hélder Sena de Sousa
Enviado por Hélder Sena de Sousa em 24/07/2024
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