Porta entreaberta (poema revisitado)
Poema revisitado
“Não vou deixar a porta entreaberta.Vou escancará-la ou fechá-la de vez. Porque pelos vãos,brechas e fendas...passam semi-ventos,meias verdades e muita insensatez.” (Cecília Meireles)
Porta entreaberta
A porta de nosso amor
estava ainda entreaberta
À espera do arrependimento
Da saudade avassaladora
Do coração tão apertado
A ponto de conduzir os passos
ao caminho de volta
Não ousei passar a chave
Nem encostá-la um pouco mais
Deixei-a assim
Do jeitinho que se encontra
A minha dor:
Entrecortada pelo abandono
Ainda saudosa dos beijos seus
É
os nossos beijos foram
Mais que beijos
E as carícias foram além
Da utopia
Quantas vezes me senti subsumida
Eclipsando-me no espelho
Ao ver apenas a sua imagem
Sobreposta à minha?
O seu olhar tentou me dizer adeus
Antes da partida
Quis antecipar o fim
Quis me preparar
Pra despedida
Palavras e gestos eram de ternura
O olhar ainda envolvente
me transformava numa gueixa
e me esquecia das queixas
Dos olvidamentos repentinos
Dos silêncios propositados
da falta de cuidado
Encontrava-me perdida!
E agora?
O que faço com a porta?
Fecho-a a sete chaves ,coloco tranca
me entrego à clausura?
Absolutamente NÃO!
Está resolvido:
Vou escancarar
A porta de vez
Não quero semi-ventos
Nem meias verdades
Nem insensatez
Vou fazer a reintegração de posse
de mim mesma
me sentir inteira
pra me assomar à porta
sem desolação no olhar
Quem sabe um novo amor
aconteça
vai se achegando
de mansinho
como quem veio do nada
sem nada me trazer
sem nada me pedir
que nem o terceiro
que se tornou posseiro
do coração da Terezinha
da canção do Chico
vestido de carinho
trazendo na bagagem
o que a vida ensinou...
Vou receber com sorriso
convidar para a um café feito na hora
colocar uma toalha de chita na mesa
e querer ouvir a sua história
Quem sabe?
Amarília T Couto