Atemporal

Atemporal

Demorei pra entender a porção-mulher

que se resguardara em mim

por tanto tempo

a que não sucumbiu a falsos amores

às pífias declarações de afeto

a gestos ensaiados de carinho

A gente briga com o tempo

e quem senão ele

tem o cinzel para acertar as arestas

que atritam

que machucam

que nos enfeiam?

O espelho nos revela

o passar dos anos

as marcas dos desenganos

os sulcos das apreensões

que viram tatuagens

Há quem não as aceitam...

Mas sem elas

como se encontrar diante do que se vê?

Um rosto sem marcas

esconde sua história

suas idiossincrasias

sua memórias...

Tem algo de muito bom

no passar dos anos

As expectativas que nos tiram o sono

vão sumindo

vão virando passarinhos

que só querem as flores do jardim

tão ao alcance das mãos

A avidez por conquistar o mundo

o sonho de salvar o planeta

de desfraldar todas as bandeiras

socialistas

ecológicas

humanitárias

vão se perdendo na caminhada

ou se tornam algo palpável

a gente faz opção

tornando a si mesma desdobrável

Assim

ora discuto um assunto

ora apenas escuto

e nem retruco

se for pra ouvidos moucos

Maturidade que chama?

Pode ser!

Mas é também um elixir natural de beleza

que faz a gente se apaziguar com o espelho

e nos faz mais bonitas

pra quem realmente importa

que é o que vemos diante de nós.

Amarília T Couto