Pensei que Queria
Julgando-me em dever sagrado,
Submeti-me ao rigoroso jugo,
Da emoção que me fora legado,
Sou eu, o mísero verdugo.
Que em tuas mãos, por desventura,
Caiu como folha ao vento,
Mas culpa tua não fora, criatura,
Apenas indícios deste alento.
Quando almejaste voar, pureza em desejo,
Eu, provido de asas, teu voo ergui,
Mas teu método critiquei, em lampejo,
Pois tua ambição, muito além percebi.
Quando desejaste viajar, em ânsia de conhecer,
Mostrei-te o vasto mundo, sem titubear,
Conduzi-te a novos lares, prazer de te ver,
E em troca, teu desprezo profundo a me apunhalar.
Quando buscavas adornar-te, em beleza rival,
Proclamei-te a mais bela, sem igual,
Desejando a ti ofertar, joia sem par,
O mais puro ouro, de brilho celestial.
Mas recebia tua insatisfação, tua queixa amarga,
Pelo tamanho do colar, a mim, questão vil,
Sem intenção de competir, batalha larga,
Com teu brilho, oh, esplendor sutil.
Nunca faltou o que almejaste, em demanda insistente,
Mas não foi bastante, tua sede insaciável,
O amor estava presente, em entrega ardente,
Mas eras apenas o meu, em labor incansável.
Pobre de mim, que em desatino,
Caminhei por trilhas de ilusão,
Buscando no teu sorriso divino,
A razão de minha própria paixão.
Vi em teus olhos a promessa,
De um futuro a dois, sem restrição,
Mas o que encontraste, oh, deusa,
Foi apenas o reflexo da minha desolação.
Quando quis ser teu alento, teu porto seguro,
Ofereci-te o mundo, a vida, sem receio,
Mas teu coração, fechado, obscuro,
Rejeitou-me, com frio desdém, sem devaneio.
E assim, na penumbra da solidão,
Recolho os cacos do meu coração,
Que, por ti, em vão pulsou,
Na esperança de um amor que nunca chegou.