Eu sou Pasárgada
Sempre procurei um lugar onde estivesse confortável, onde pudesse expressar minhas verdadeiras emoções.
Desde criança, essa busca me acompanhava, uma sombra suave, mas persistente, guiando meus passos e moldando meus sonhos.
Lembro de passar horas deitado nos colchonetes da biblioteca do colégio, imaginando um mundo onde não precisasse esconder meus sentimentos. Lá, entre livros, mapas, e fotografias antigas, eu me sentia livre para ser quem realmente era, sem máscaras ou julgamentos.
Era o início da minha jornada em busca de Pasárgada, aquele lugar utópico descrito por Manuel Bandeira, onde “sou amigo do rei” e “a existência é uma aventura”.
Na adolescência, esse anseio por um refúgio tornou-se ainda mais intenso.
A escola, com suas regras e expectativas, parecia um labirinto de paredes cinzas e frias, sufocante e intransponível. Encontrava consolo nas palavras de Bandeira, que sussurravam promessas de um reino distante onde “lá sou amigo do rei” e “tudo é permitido”. Escondido em um canto da biblioteca, entre livros empoeirados e sonhos engavetados, eu vislumbrava Pasárgada como um oásis de autenticidade e liberdade.
Os anos passaram e, como tantos outros, fui engolido pelo turbilhão da vida adulta. Trabalho, responsabilidades, contas a pagar.
A busca por Pasárgada tornou-se uma memória distante, uma lembrança nostálgica das minhas fantasias juvenis.
Mas em momentos de silêncio, quando a cidade dormia e eu podia ouvir o som do vento sussurrando nas árvores, aquela velha sede por um lugar de conforto e expressão genuína ressurgia.
Então, um dia, percebi que Pasárgada não era apenas um lugar imaginário, e tampouco um lugar físico, mas um estado de espírito.
Era a capacidade de encontrar pequenos refúgios no cotidiano, espaços onde poderia ser autêntico e vulnerável. Era a coragem de criar meu próprio mundo, onde minhas emoções pudessem fluir livremente.
Encontrei Pasárgada na música que tocava enquanto cozinhava, nas páginas de um diário onde derramava meus pensamentos mais íntimos, nos abraços sinceros dos amigos que realmente me conheciam.
Hoje, continuo a procurar lugares onde me sinto confortável, onde posso expressar minhas verdadeiras emoções. E embora ainda sonhe com aquele reino idealizado por Bandeira, e entendi que Eu sou Pasárgada.