FINIS...

Que saudade de ti, do teu sorriso,

Do teu olhar tão puramente santo!

Da silhueta virgem que eu diviso

Através das cortinas do meu pranto!

Sinto um deserto no meu coração...

Um deserto de gelo e desventura,

E a neve amarga da desilusão

O peito meu transforma em sepultura.

Que frio! Que silencio na minha alma...

Escuto o pranto astral do pensamento

Que pela noite lacrimosa e calma.

Chora a mágoa fatal do esquecimento.

Que saudade de ti, do teu amor,

Dos sonhos que sonhamos acordados,

Do teu sorriso cândido de flor,

Dos castelos por nós idealizados!

Tenho saudade da saudade santa

Que eu sentia por ti! Tenho saudade

Da cor dos teus cabelos, e ela é tanta

Que me castiga assim sem ter piedade.

Que me resta na vida? Que me resta?

Somente a penitencia envenenada

De fingir, de viver na eterna festa.

Na orgia eterna que me leva ao Nada!

Vou viver, vou viver do meu passado!

Não me lamentes, não, por piedade,

Que o meu amor espiritualizado

Dorme nas mãos de neve da saudade!

VICENTE ARAUJO

Parnaíba – 31/08/1932

Envio para este site, como homenagem ao meu tio Vicente Fontenelle de Araujo, Ele morreu de tuberculose no final dos anos trinta do século XX. Este poema tem agora em 2024, 92 anos. E só agora é revelado.