Do olhar furtado da foto
Na sua foto,
Na cama na qual o seu corpo se estende,
A lisa pele se confunde com seus abundantes cabelos.
A cachoeira de fios, ao esconder a nuca tensa, tece com detalhes a franja que acaricia o perfil.
Ombros à mostra em músculos delicados perfazem as sensíveis torres que alçam levemente a doce estrutura do corpo.
As fortes colunas que não vejo, se iniciam em ancas seguras e firmes, tal como se apresenta a encantadora proprietária.
Com contorno de rosto altivo, olha para a câmera como se nada tivesse a esconder
Aumento as dimensões na tela e um feitiço percorre o meu espírito.
Do belo rosto, observo com atenção desmesurada um olhar triste, profundo, meigo, perdido...
Do sorriso belo e compelido percebo a dor...
Tampo-lhe a metade do semblante e o globo ocular esquerdo para aquele que vê revela mais do que apresenta a fria tela.
O olhar triste e longínquo sacode o inconsciente,
O meu e o dela
Com profundidade minha aura escurece
Olho profundamente a retina na tela e sinto mais do que devia
Não devia ter recortado o seu rosto,
Não devia ter violado a foto.
Vejo aquilo que não desejo,
Percebo o que não quero e amo o que venero.
Do olhar de adaga que a moça solta
Fagulhas da infelicidade abrem o meu peito e um sombrio desconforto atinge o coração.
Os olhos,
O olhar esquerdo delicadamente triste,
Escondido por teimosos fios que maltratam o meu observar, produzem sentimentos que desconheço e que se apoderam de mim.
Desejo que os olhos se abram
Que a alma libertada, liberte o espírito em construção
Adiantada no saber da vida pouco lhe falta no observar.
Poucos perceberam o que percebi
Gosto disso e gosto de mim. Gosto dela e amo olhar sua foto louca que lhe esconde no sorriso largo e no farto cabelo de cachoeira.
Pressinto que minha alma vai ao seu encontro e desejo aos olhos que contemplo, muita esperança, perseverança, temperança e tempos de PAZ.