Lamento

Dói-me tanto!

Ficar ruminando lembranças de tua

avalanche de fúria,

recomendando-me buscar respostas do

indecifrável

do irreplicável.

Dói-me tanto!

Reviver o desconforto de teus

socates da intolerância

ao recolheres lençóis sob meus glúteos

em possível última alcova.

Não há como não gemer

trespassado pela flecha

do desprezo

que rompe o ventrículo que soía receber afagos

e,

abrupto,

presencia a despedida.

Eterno é apenas uma expressão do vocábulo?...

Tu queres fazer temporário o que eu julgava perene?...

Não creio em inferno,

mas habitam em mim sensações descritas por seus crentes!

Abriga neste peito

a massa cardíaca que, de repente, inverte a lógica:

bater,

por apanhar.

Ainda não alcanço o piso do abismo em que me lançastes...

Procuro flutuar na atmosfera dos sentimentos que

me sufocam

me engasgam...

Não quero soer com meus gritos de desespero...

Tu me ouves?!

O meu odor, que antes te enlevava, deu lugar

ao tédio fétido

da desilusão?

No porvir

resplendecerão sentimentos que

gerarão choros, oriundos de atitudes do desamor...

Aqui,

paixão,

suo o sangue do aflito ao proferir este

lamento

em que a dor,o sentimento e a desilusão

se ladeiam

se enamoram

e se casam

para gerar o mais provável fruto da discórdia:

o congelamento do que era cálido

a indesejável cinza do amor

a separação.

Avante,

amor,

o abraço do gelo anunciará que

o louro

o êxtase

o suor em chuva

e o repouso exânime

ficaram no pretérito,

a desídia esterilizou glândulas

e o cérebro sepultou hormônios

transformando-nos conteúdos de féretros ambulantes .

Sebastião Brito Filho

Brito Filho Sebastião
Enviado por Brito Filho Sebastião em 21/06/2024
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