O BEIJO
Ó lábios atrevidos!
Negam o cálice, as uvas dos vinhedos...
Clamam juras de amores tredos
E beijam com a gelidez dos bustos despidos!
Alba! Permita que me resguarde
Há na noite uma doce melancolia...
Se já não tarda o raiar do dia
Tomo a paixão, sufoco o alarde!
Elevo os meus olhos pra além do mundo!
Rasgo os escritos! Por teus flancos fecundos,
Bebe o ébrio que sonha a cada gole...
Daí-me, apesar de tão além de mim...
Num destes alvores, céu de carmim,
O ósculo!
Mesmo que Afrodite, em ira, a meu coração imole!
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Observação
1 - “gelidez dos bustos despidos” - No texto, se refere ao frio marmóreo das esculturas das deusas
2 - “Alba” - Se refere ao amanhecer