Herança
E para você, deixo minhas mesquinhas linhas.
Escritas a mão, não tiradas do coração
Pois este está vazio de linhas.
Deixo meus versos, não vazios.
Cheios de algo, que talvez não consiga explicar.
Mas se no futuro minhas palavras souberem falar
Mandarei-as voando como andorinhas, ou pombos.
Estes últimos são mais simples, mais comuns e menos românticos.
Não são palavras românticas, nem linhas apaixonadas.
São algo mais, com sabor doce e calor aconchegante, tão afiadas e tão seguras...
Enquanto olho para estas linhas elas me olham e me apontam e me perguntam e me digerem
São grosseiras, e ao mesmo tempo, macias e gentis...
Mas para você, quando o dia chegar, deixarei todas elas, todas as linhas mesquinhas e os versos também.
Todas as palavras, e as pausas, vírgulas e pontos.
Os acordes que fiz também, e quem sabe te deixe até alguma melodia, quando chegar o dia...
Deixo para você minhas mais sinceras charlatanisses aportuguesadas de um romance antigo que li em algum quarto empoeirado.
Deixo minha mania de expor em metáforas escritas, meu sentimento confuso que hora é dia, hora é tarde, hora arde e hora nem mesmo é.
E para você, deixo tudo que não sei que é, mas tenho em mim mais fundo que qualquer coisa.