NO DIA DA CHUVA
Queria escrever algo que lhe comovesse
Palavras capazes de lhe retirar do jejum
Letras que lhe colocassem em frente ao espelho...
Não tenho forças
As idéias me abandonaram e há tempos caminho no vazio cinzento.
Cansado tateio como um cego no mundo no qual vivemos
Sombria, inoperante e desligada, a minha alma vegeta ante os acontecimentos do mundo.
Vulnerável às perdas entendo o meu (e o seu) medo
Faltam-me forças para lutar contra a fragilidade, a raiva contida e a inoperância de mim
Desculpe-me as melancólicas palavras e a incapacidade de tocar-lhe o íntimo
Dependo de minha solidão crua e nua
Penso na sua solidão, limpa, leve e fresca.
Tudo ou nada impede o que chamam de felicidade
Esta invenção se abriu quando de passos lentos flutuava sobre as águas da chuva
Os cabelos soltos e o sorriso aberto confortaram a minha atordoada alma
Compreendi o que me passa
Entendo o receio e respeito a sua profundidade
Ao lhe tocar novamente encontrei-me
Tal como em espelhos paralelos percebi sua profundidade
Esforcei-me por aprofundar o encontro
Conheci o que permitiu. Desconheci por não conseguir...
Impotente e sacudido por ondas de desespero estremeci
Experimentei o fogo da chuva que caia sobre os ombros
Que chuva?
Não me lembrava mais dela e somente queria escrever algo que lhe comovesse
As palavras em descontrole caíram como as goteiras na calçada e
elas se misturaram nas poças pelas quais os seus pequeninos pés flutuavam.
A chuva aumentou... depois parou.
De qualquer forma nasci, não desejo - tal como outrora-, morrer...
As palavras ajudam a delinear o que ofusca o pensamento
Atordoado penso em guardar sua alma junto à minha
Pegar o restante da chuva e misturar com ela os nossos medos
esperando, com perseverança, que as enxurradas de verão os levem para longe...