Desânimo e Sol
Vi da janela e fresta, da parede velha e madrugada, a lua que foi se embora, tão triste deste eu.
E a alva da noite, bem tímida, se recolheu, dormiu em cinzas de nuvem.
E aquele amor de outrora, como a lua, embrenhou se no escuro e fundo.
Lembrei me dos dias claros de mim, e como a lua, cansada e desventura, deixou um turvo de noite.
Da pedra velha que sou , vivo inerte e desolado, um ânimo de morte e mesmice.
As águas sorriem, molham como lábios de prazer, e na chuva que inunda, nem acorda .
Oh, pedra de mim, descamba barracas e ribanceiras, ribeiros e grotões.
Oh, ventos da noite, empurra a pedra, que bem fincada, insiste as garras de dor.
Inunda te, de um aguaceiro de orgasmos, estilhaça em sentimentos, deixa a bruta, brita leve.
Leva, arranca do solo pobre, da tumba escura e peso.
De um tal instante, moveu a morte, a vida, a sorte deste meu peito e sangue.
E num momento, da janela e madeiro grande, abri a vidraça, e vi um sorriso de passarinho.
O jardim acolheu a feia borboleta, o ipê vestiu se de primavera na manhã seguinte.
Acordei do sono tolo, da morbidez da rocha, amei a alma que há no ego meu.
Corri os campos, subi nos montes, bati à porta do sol.
Abracei a vida.
João Francisco da Cruz