João e Maria
João amava Maria,
que não amava ninguém.
O coitado desposou dona Cecília,
que era irmã de Maria, a frígida,
diziam jocosamente as más-línguas.
O homem pode viver sem o amor,
mas não sobrevive sem alguém.
Cecília queria ter filhos,
mas João não os queria.
Maria queria ser freira,
vocação a moça tinha,
porém, que situação!
Seus pais não aceitavam tal ideia.
Sem enfrentá-los a jovem postergava.
Casado, João se via infeliz,
menos por Cecília, mais por Maria,
que com o seu coração de estátua,
fato constatado, não o queria.
Dona Cecília era feinha de rosto,
mas com um largo sorriso, agradava.
A irmã sim, era de feições belas,
porém, de uma beleza austera.
Quando Cecília comunicou sua gravidez,
João se apressou a afirmar que não era dele.
Por caridade Maria tratou de consolar o cunhado,
homem traído, e agora divorciado.
É certo que a fé remove montanhas:
Quando a irmã de dona Cecília apareceu grávida,
o povo dizia que a caridade se transformou em amor.
O coração de pedra da beata finalmente derreteu.
Essa foi a história do João que amava Maria,
que passou a amar João.
Ah, João! Tentaste a sorte com Cecília,
mas no final foste fiel ao teu coração.