Tuas formas em brumas
O doce acorde do banjo,
A melodia fina do piano,
A voz aveludada da música,
Me traz lembranças tuas,
Das noites de contos e sorrisos,
Dos dias de segredos trocados,
Necessidades de almas reconhecidas,
Corpos, olhos, estéticas esmaecidas,
Letras que delinearam sentimentos,
Daquelas poesias no bico de pena,
As rimas tortas expressas na alma,
Nanquim usado no traçado de teu rosto,
O contorno de tuas formas em brumas,
Quando a dor da ausência me corroía,
Pintei teu semblante em cada folha,
Da memória quase já amnésia,
Da fome de te ter em meus braços,
Da tristeza solitária atordoante,
Da sede que esvaziou minhas lágrimas,
Desenhei-te em cada parede branca,
Cobrindo-te em murais urbanos,
Mapeando teus olhos e lábios,
Em linhas decoradas em solfejo,
Fados alinhados de um oceano,
Que se fez imagem por amor,
Esperando que por teus trajetos,
Vistes meus traçados apaixonados,
Me reconhecestes pelos rabiscos finos,
Sensíveis como massas folheadas,
Delicados como cristais ao vento,
Sem assinatura, sem nome, sem rosto,
Apenas a intenção que me conduziu,
Esse espectro meio fantasma meio ser,
Que ainda humano se sombreia nas margens...