Os tons que usávamos
Eu usava tons frios, e você tons quentes,
Eu via a neblina, você o sol nascente.
No meu mundo cinza, teu riso, uma cor.
Quebrava a inércia, transbordava amor.
Meus dias eram longos, sem fim, sem destino.
Você trazia o canto, o toque divino.
Nos olhos, meu pranto, no seu, a esperança.
Era contraste vívido, pura dança.
E num dia nublado, sem aviso, sem som,
Partiu levando o brilho, meu abrigo, meu dom.
Os tons se dissiparam, a paleta, vazia.
Ficou a sombra fria, eterna agonia.
Agora vago só, sem cor, sem alento,
Nos ecos do passado, perdido no tempo.
Meu coração gelado, em um inverno sem fim,
Clama pela chama, que um dia, esteve em mim.