Coração Ambulante
Coração Ambulante
Hoje senti a sua presença, o seu cheiro, o som dos seus passos atravessando o corredor
Brincavas saltitante qual criança, saltando do quarto pra sala.
A casa foi invadida por uma luz, um vento cantante, um perfume de jardim, umas flores desabrocharam. Depois, risos, gargalhadas juvenis e o silêncio...
Estais aqui?
Creio que naquele instante, - hoje tão distante de nós, e de tudo que no silêncio de nós dois tínhamos como absolutamente certo, que havíamos, enfim,encontrado o amor.
Sim, tudo aconteceu em sua plenitude.
Não estávamos enganados, foi muito mais que amor. Uma confluência de encantamento, olhares plenos e intensos, sorrisos e abraços.
Os longos e intermináveis alongamentos e segredos de alcova…
Música não havia, mas os nossos ais, gargalhadas que se rompiam em gozo e alegrias…
Foi muito mais que amor.
Nos banhávamos, dias em champanhe, dias em vinho, nos hidratávamos pro horizonte de nossas tardes que deixaram marcas leves e doces em cada canto de nossa Cabana.
E os beijos, abraços e carícias foram tão intensas e profundas que hoje não me tiram a alegria, não me tiram o sono e não interrompem meus sonhos.
Não deixam que as lágrimas, doces ou salobras, que dos meus olhos caem se amarguem.
Mas um vazio longínquo e uma saudade dilacerante de poder tudo sentir novamente.
Não! Não é saudade de ti…
Não de ti, de ti que tanto amei e de quem tanto recebi nos anos mais intensos,
dos longos e doces lábios lânguidos entregues que eu tanto beijei.
Mas por ainda sentir meu peito molhado, banhado pelo perfume dos nossos corpos, deste deserto de mar de amor e de paixão, que se atravessa e impede a travessia dos meus dias.
As gotas e “chuvas” do nosso amor nunca se desgrudaram do meu corpo, do pensamento.
Não, não tenho saudades de ti.
Talvez uma dor, o vazio lacerante que arde e se aprofunda em mim, seja pela ausência enorme de esperança, - de nunca mais amar tanto assim.
***
Poema: Coração Ambulante
Série: Poema com Marias
Autor: Júlio César Fernandes
Data: 20.05.2024.