Beleza Natural
Perguntas-me sobre tua beleza
Mas o que posso eu dela dizer?
Sabes que é tua própria gentileza
E tua simetria e vivacidade de ser
Tua maciez de temperamento
E tua doce sagacidade em lazer
Teu belo afetuoso sentimento
E tua voluptuosa imaginação
Isso é na mulher o pigmento
Que incendeia no homem a paixão
Não apenas as delicadas linhas
Que fazem de tua face distinção
Mas ainda à mim caminhas?
E queres saber o que prefiro?
Pensa nas características minhas
E veja assim aquilo que sugiro
Do que é mais agradável à ti;
E como melhor amor inspiro?
Por sinceridade mostrar-te
E dar aquilo verdadeiramente meu
Ou é melhor enganar-te
Com a ilusão do que não é teu?
Queres falsas jóias e prata impura
E aquilo que não é o que pareceu?
É melhor se eu fingisse brandura
E com brilho mudar a complexão?
Melhor falsificar minha pintura
E me esconder em uma ficção?
Devo eu alterar minha altura
E pintar minha face de antemão?
Sei que odiarias tal frescura
E eu sou da mesma opinião
Pois o deleite que o amor conjura
Vem de uma natural perfeição
A pureza de uma genuína pessoa
É a grande fonte de toda atração
Assim minha repugnância ressoa
Contra o falso lustre popular
Pois o que a natureza aperfeiçoa
É o maior pecado tal sujar
E logo aquilo que em ti admiro
Vens, com vis tintas, deturpar
Portanto eu muito aqui repito
Dos deuses e toda a bela criação
E selvagens animais, eu cogito,
São mais felizes em sua união
Pois na raça humana, apenas,
Há esta artificial corrupção
Quão erradas e quão obscenas
As artes que a beleza deformam
Como se brutos animais em suas cenas
Maior magnificência natural formam
E embora talvez seduza um estranho
As artes, no final, nada transformam
Mas imagine da vergonha o tamanho
Ao suor e lágrima compartilharem
Ou quando juntos tomam banho
E seu engano ao outro revelarem
Desde o início estava determinado
À eles em infeliz final acabarem
Pois inferior é o charme natural alterado
E mera tinta tem quase nenhuma beleza
Pois ouvir da virtude que ela tem cultivado
Traz muito mais deleite e grandeza
Melhor que o mais belo quadro já pintado
Isso eu digo com toda a certeza
Mais belo até que o sol na janela levantado
Eu vejo na pura face em minha cama
Do meu amor deitada ao meu lado
Sem quaisquer brilhantes jóias ou trama
Nem brincos de jade nem robes imperiais
Seu cabelo sem a presilha lindeza emana
E sem seus complicados garmentos estiáis
A pura beleza deitada em seu leito
Sem todos seus ornamentos banais
Ao contrário me diga onde está o proveito
De ser tão majestosa como uma montanha
Ou o que há assim de tão grã perfeito
Em ser tão graciosa quanto o rio que te banha
De cabelos que fluem como núvens e olhos claros
Ou que pareça uma deusa dos céus em tal façanha.
Não são tais bens todos mundanos e rasos?
E faltando virtude o que nos conforta?
Melhor os bens mais preciosos e raros.
Assim quando trazes à mim essa tinta morta
Nenhum interesse tenho em detestável poeira
Mas sim a tentação de tua nua pele exposta
Exsudando de ti o vívido aroma que cheira
Ao invés de imóvel máscara horrível
Há muito mais de ti que eu queira
Melhor que dura plástica terrível
São os detalhes de tuas expressões
E quão mais à mim é aprazível
Quando provoco teus risos e confusões
Assim apenas abomino a vil falsa cor
Qual priva-me desses belas ambições
Pois amo nada mais que ser o causador
De convencer teu coração à acelerar enfim
E criar em ti o belo gradiente de calor
Qual também agita meu sangue assim
Presenciar tua inconquistável lindeza
Quando tuas bochechas coram para mim