DEPOIS QUE MARIA PARTIU
DEPOIS QUE MARIA PARTIU...
... partiram a alegria, os sorrisos, os louvores, os cochilos no sofá.
Aquele terço de pedras azuis e brancas esteve com ela até o fim. Certamente escutaram cada dor, ouviram em
silêncio cada prece, sentiram o arder dos joelhos de uma fé inviolável.
O cheiro do café não é o mesmo, já não se acorda cedinho na rede, ouvindo a TV alta sintonizada na reza do terço
ou na celebração da missa.
O quintal já não ouve as mesmas gargalhadas das reuniões em família.
O pé de cajueiro chora, pois, a espera todo ano para, ali em sua sombra, Maria quebrar castanha.
O fogão a lenha já não queima com a mesma simpatia.
A égua velha caducou em solidão, chorando noite e dia com saudades de Maria. As demais criações, como seu
cachorro Surubim, ficaram desoladas, impotentes com tamanha perda.
Quem dera pudessem assinar um contrato de esperança, ficando, além da lembrança, a certeza de que Maria iria
voltar.
E, como no ato ligeiro de balançar a rede ou fechar uma janela, tudo se modifica... tudo se modificou.
As frechas da janela verde relembram um ambiente onde, apesar das dores e desarmonias de um lar, o amor de
Maria sobrepôs tudo.
E se a saudade tivesse outro nome, sem dúvidas seria Maria.
Ronaldo Crispim,
15 de maio de 2024.
Hoje, dia 17, Maria completaria 90 anos.