O PRIMEIRO ECLIPSE DO SOL

Numa redoma, enclausurado, vejo o sol

Tempestuoso e tenebroso, e ouço a lua

E suas lamúrias, dizendo-se só.

Obstinada, decide esperar

E deita-se por sobre os montes

Prateando todo o horizonte.

O Universo questiona-se então

Por que o galo recusa-se a cantar,

Por que os pássaros ainda não estão a voar,

E o sereno ainda insiste em cair?

No impasse, ela arrisca dizer

Que é hoje, que é agora ou nunca

O fim do que já lhe é sina,

Pois que solidão nem de longe lhe anima,

Afinal nasceu lua e não poeta.

O sol estilhaça a clausura em cristais,

E olha nos olhos a lua.

Ela mergulha em seus braços e quer mais.

Porém, sua luminosidade à cega

E o seu calor à é demais.

Por fim, sussurra:

É impossível, adeus!

E refugia-se em outros céus.

E então eu que tudo assisti, pensei:

Pobre lua, eternamente só...

E saí pelas ruas sentindo-me lua,

Cego e roto pela presença tua.