Por partes

Vamos por partes

Por partes eu não vou

Vamos pelo todo

Pelo todo não desejo ir

Vamos por onde?

Temos que ter por onde ir?

Por quê não?

Não é melhor a insegurança?

Por que ter medo dela?

Vamos viver

Deixar a chuva banhar o medo,

Levar a esperança, lavar a perseverança, respingar a temperança

O sol nos observará e secará

Então deixe os cabelos livres, não há porque penteá-los

Vamos colocar os pés no chão

Sentir a terra

O cheiro da chuva

Amar a lua

Fazer sexo com o sol

Vamos nos trabalhar, beijar, abraçar, apertar os corpos

Vamos viver a vida, sem cobranças, mandos, desmandos e perfídia

Vamos viver, tatear, tocar, sugar, lembrar de tudo e do tempo que não passa

Antes que a morte e a velhice nos batam à porta e nos leve para o todo ou para as partes.

Poesia publicada no livro BARROS, Lúcio Alves de & VILELA, Antônio Henrique. Das emoções frágeis e efêmeras. Belo Horizonte: Ed. ASA, 2006.