TUDO QUE NADA SOU
Há quem diga que eu sou poeta
Mas como posso crer nas rimas imperfeitas, das palavras que jamais consegui dizer?
Palavras que não desnudam minha alma, palavras que nem aos gritos se fizeram ouvir?
Que fracassaram na iminente guerra contra o sofrer
E que nem para calar minhas dúvidas, puderam servir?
Elas se foram e voltaram de mãos vazias
Um dia partiram nas malas do teu insensível adeus
Foram frágeis na dolorosa tarefa de fazer-te olhar pra trás, quando partias
Foram se esconder covardemente na cegueira desses olhos teus!
De que servem suas rimas, se já não fazem mais o sol brilhar?
Quem aplaude sua pompa num estilo batizado por meu choro?
Palavras que vomitam nas revoltas indigestas do meu sonhar
São apenas o brado platônico, a mostrar o tipo de cruz onde hoje morro!
Na imensidão dessa semente, reside, pois, o meu silêncio
Esse mesmo que implode em cada sílaba que me projeta
Nele eu não sou mar de poesia - sou geleira em incêndio
Posto que enquanto não te disser tudo que sinto, jamais serei poeta!